- Onde estás?
- Em casa.
- O que pensas?
- Em tudo.
- O que é tudo?
- O começo da minha consciência até o fim
dela.
- O que esperas?
- Nunca espero
- Por quê?
- Porque toda espera é ansiosa.
- Não sonhas?
- Sempre.
- Todo sonho é uma aspiração e com ele não
vem a espera?
- Meus sonhos são todos meus; não espero
nada deles, pois eles nunca são iguais.
- O que vês?
- Imagens
- E o que são?
- São dela.
- Quem é ela?
- Segredo. Não digo.
- Está contigo?
- Não. Apenas as imagens.
- Ela virá?
- Acredito
- E se vier o que irás fazer?
- Sentir com toda a minha libido.
- E se não vier?
- Sentirei com todo o meu pesar.
- E se vier e não for o que esperas?
- Terei outro tipo de consciência.
- E o que seria essa consciência?
- Não sei. Ainda não a tenho.
- E se ela vir e for tudo como pensas?
- Serei tudo o que ela pensa também.
- Por que dizes isso?
- Porque costumava ser assim.
- Podes falar por ela?
- Ela disse que sim.
- E o que mais ela disse?
- O importante é o que não disse.
- O que queres dizer?
- Não existe segredo.
- ...Não compreendo...
- "Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos."
-...Humm, estou tentando entender: É apenas uma citação de Freud ou realmente vocês se tocaram?
- Tudo nela me toca
- E ela sentiu que te tocou?
- Ela, na dúvida, atestou.
- Como?
- Tocando em meu peito para sentir o meu
coração.
- Você fez o mesmo?
- Sim
- Então... você duvidou?
- Não. Pretendia tocar em outro lugar.
- Onde?
- No ventre
- Para quê?
- Para sentir as borboletas.
- Que borboletas?
- As que sempre estavam ao nosso redor.
- Por que não tocou?
- Não foi preciso.
- E por que não foi preciso?
- Pois ela arfou
- E isso quer dizer...?
- Que as borboletas vivem
- O que queres agora?
- Muitas coisas...
- O que tens agora em mãos?
- Um cigarro
- Ansiosa?
- O cigarro é um substituto perfeito
- Substituto de quê?
- Para aliviar a minha volúpia.
- Freud?
- Sim.
- Falando em Freud, se tua id falasse agora, o que diria?
- Não diria, agiria como se fosse a própria
fome.
- E o que superego diria?
- Ele é um eunuco com seu caderninho de
paradigmas
- E o ego?
- Pensando...
- Em quê?
- No que decidir.
- Decidir é difícil para você?
- Sim.
- E se você a beijasse, o que sentirias?
- Gula.
- Se ela te tocasse?
- Espasmos.
- Como te sentes agora?
- Muda, surda, cega e faminta.
- E como podes reverter?
- A afonia com a palavra; a surdez com o
som, a cegueira com a luz e a fome com o alimento.
- Você foi realmente sincera nesta conversa?
- Não.
- Por quê?
-" não existe verdade 100%..."
- Deixe-me adivinhar: "... Assim como
não existe álcool 100%"?
- Sim!
- Freud?
- Freud!