Deixes-me partir,
Se não consegues deixar de trancar as portas.

Quanto de tuas vestes são vaidades?
Quantos rastros teus foram por mim perseguidos
Para que, ao fim, a alegria se envergonhasse,
As minhas horas não te beijassem,
E meu ser coroado fosse adornado de rosas tristes...

Grandes são os teus encantos
Que com palavras fazes pontes com o meu espírito
E consegue amamentar a dor - o nosso tédio-
Em um ópio homeopático que não possui moradia fixa.


Quem de nós poderia olhar uma determinada estação
E dizer que  foi mais nua que nós?
Fomos nós Sete vezes mais!
Sete vezes estive em posições favoráveis
Para te ver desfolhar as vestes...
...Estou a fenecer à míngua desse sentir...

A tua oratória é uma promessa  interrompida pela nossa realidade.
Ofertamos a um deus, por nós, deposto
Buscamos e não encontramos
Batemos e não entramos
O nosso amor pelos momentos sonhados
Sobrepõe aos vividos.

Onde estará o “nós”, mesmo que não exista?
Na poesia?
A cartase  dissipa-se depois de um tempo sentida
Numa fome que nunca sacia.

...Talvez, aí esteja à síntese da NOSSA agonia
Poemas são limitados.
Resguardados, coagidos, acanhados
Cujos dispositivos automáticos são sempre de opressão e de castigo.
Estaremos sempre aqui, condenadas a uma eternidade,
Mesmo depois que barqueiro sombrio nos coma...
Presas nestes versos estranhos por um amor atemporal.
Sem singularidade, sem nomes, sem  realidade
E sem saída.

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