Você colheu uma rosa louçã
E eu estava a dois passos do teu peito,
Dez graus abaixo da volúpia,
E a um centímetro de me perder.

Tu que despertas essa chama
E que me arrepia os pelos,
Que coloca insone e inquieto o leito
E que nunca me toca
-a não ser em devaneios-
Que untam-me sempre de corpo inteiro.

A rosa em tuas mãos se torna ordinária
Tudo que é belo diante de ti não te embuça
Pois ante teu cheiro qualquer rosa sânie
É a ti que todos buscam...

Queria ser a rosa que colhes
E em tuas narinas deixar meu cheiro
Em tua memória o meu encanto
E dos meus espinhos te furar os dedos.

És a rosa que não se colhe,
Mesmo assim te quero pra mim.
Para que minha vida não seja mais aziaga
Para que possas colorir meu jardim.




Tens a façanha de produzir sorrisos
E de teu corpo maduro a substância de desejos contidos
Tuas palavras são como indícios de um ser narciso 
E teus cabelos como de Medusa a lançar feitiços.

Teu cheiro passa e fica 
Segredados em minha memória alada
Tens por vezes olhos que de tão tristes
Impulsionam-me as lágrimas.

Tinha costume de olhar-te meses a fio
Sem ousar proferir as palavras
E quando fiz conheci o vazio
Que só tua presença sarava.

Viciei, me cortei e até sofri
E hoje por mais que queira livrar-me
A vida me impõe a ti.

Seja qual for a magia que exerces 
Livra-me, poupa-me sentir.
Que não és para ninguém e tão pouco para mim
Então te exorto desprega-te de mim.

Nada que delimitem no tempo ou situem no espaço
Tem a força dos teus passos largos,
As flores colhidas em teu regaço
E som da tua voz naquele momento.

Teu corpo pinta o que é belo
Tua boca profana o incurável
E alto infringido pecado
Que fugiu de ti sem a força do acaso
Mas fruto de uma decisão que não conseguiste manter.

E assim me puseste longe 
E fizeste por onde meu amor abdicar
E agora sofres teu feito
Que os anos não fizeram aplacar.

Pegas meu desejo ainda inflamado
Exigindo respostas de imediato
E prometendo a mim dedicar...
E a ti olho com olhos laços
Sem saber o que falar.

O meu ego dilacerado com as lembranças do passado
Pensam no mal já amenizado 
Nas lágrimas esgotadas,
Nas noites mal sonhadas
E nas sombras que tive que me lançar...

Era pra(z)ser sem fim
Meu amor guardado, mudo
Inerte, mas não nulo
Não sabe o que te ofertar.
Minha cara, talvez,
e somente talvez,
Te queira para sonho e não para te amar.