O amor ao pé de mim 
Pede para dar 
Altruístas confissões noturnas 
Que por natureza não consegue enxergar.

Confusa encosto na parede crua 
E imagética apareces preenchendo o lugar
Queimando fria a carne desnuda em 
Azulejos que estão ali para enfeitar. 



O tempo que passa se organiza
Para que nada nos priorize
E vivemos a realidade do que passa,
Do que surge e do que nos toca...

Esse é o tempo das horas
Como quem espera o momento certo!
Ciclo vicioso de agir, comer e dormir.
E vamos às festas; às compras;
Trabalhamos; descansamos;
E queremos estar em todos os lugares ao mesmo tempo
E comemos sem tempo de digerir.

... Mas, nosso ser adulterado
Busca também plenitude dos gestos passados.
Pequenas minúcias dos atos
Do que surgiu em nós
e por nós,
Na sensibilidade lúdica das placas,
Nos batimentos das asas que roçavam os ventres...

Esse é o tempo das sensações que surgiram
Na autenticidade do se sentir viver.
Horas perpetuadas,
Encontro e colisões entre o agir e o receber,
O degustar e ser degustada.
Um sobressalto de emoção,
Um deslocamento de ritmo,
O verdadeiro Carpe Diem em evolução
Cujo descanso é apenas uma obrigação.

... O tempo onde tudo que passa, surge e nos toca
É o mesmo tempo que nunca passa,
Nem surge,
E nem nos toca...

Esse é o tempo dos sonhos febris e inconformados,
Uma engrenagem sigilosa
Trabalhando em “Tac e Tic”
Que cultiva a imaginação
Maculada pela vida que passa
Porque não passa.
Ponteiros que sempre querem agir e não podem,
Buscam e não encontram.
Uma breve náusea que trago comigo

E vou dormir com a ilusão de que passe.


Visto-me ao indefinido de ti 
Agruras pormenorizadas de significantos 
Ao pôr-do-sol desse desencanto, 
Que o labor de teus cílios descortina. 

Quase escuto o som de  Mia 
Que tua doce voz apropriaste em teu canto. 
Ferindo agora os mesmos tímpanos  
Que por ti foi alvo de encantos. 

Certamente haverá um dia 
Que o mesmo fúlmen nos atingirá em alguma esquina 
E ao fitar teus olhos eu descobriria 

O quanto de sabor os teus lábios me fumegariam. 




Apareces com acuidade 
envenenando minhas retinas
Em doses suficientes para me prender.
E repreendes minhas sensações convencidas de desesperança,
Ainda que sejam convencidas;
As convencidas acuidades das minhas sensações,
Ainda que sejam de certeza.

Nossa canção de confinamento,
Nossa pausa racionalizada,
O intervalo de inércia,
E a negação do ser.
Tudo isso nos abstraem
De um não pensar e de um não sentir,
Mas outros sentidos nos traem como dispositivos lúdicos...
Sons como prelúdio da festa,
Toques num coração cristalino que não pulsa,
Luas de memórias encostadas em bancos,
Bocas que incharam com o uso,
Tal qual perfume de um mar que não consigo sentir em mim.

E assim, como num brinde,
O sentimento em me se fez,
Quando diante do teu olhar,
Num gole mais audaz,
Estive condenada a te buscar
Para sempre.


A arte de te sonhar
É esquecer a emoção que sempre finge que sonha,
É romper com raciocínio que sempre distrai,
É olhar-te sem que sejas o vulto dos que assombram
E nem com a memória de nenhum lugar.

Vejo-te enquanto penso!
Se é praia nossas pegadas se apagam com as ondas
E não me emociono por ser normal.
Nem reflito sobre a velocidade do tempo
Pois, é abstrato e você real.

Não preciso falar ou te escutar
Pois se falo racionalizo e o sol se encolhe
E já é hora de nos deixar
E o vento ainda nem levantou tua blusa
Para tua tatuagem mostrar.

Teus olhos e sorrisos falam o não dito
E quando passas as mãos nos cabelos
Nunca sei se é vento ou aviso...

Nessas horas sempre paro de pensar.

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Magnetizados são nossos corpos tolos 
Que de dolo envolve-nos de espanto 
Atração, instinto e fome 
Rompem o que enfeita as cabeças dos santos. 

Não há como dizer "sim" 
Sem dizer "não" a outrem, 
Nem dizer "não" sem se perder. 
Não há claridade que cure  
O que no escuro nos faz adoecer.

Desejo é queda livre 
Para o espírito se perder 
E o mesmo se perde 
Por não deixá-lo acontecer.
  
Ganhamos se nos perdemos 
E sem nos perder, ganhamos. 
Quem poderá entender 
O céu e o inferno
Quando estão no mesmo plano? 








Estou confusa:
Que efeito em ti fez a lua?
Depois de tanto tempo...
Seria ainda eu?

Como num presságio sinto o odor de tuas súplicas
Mas, seriam por mim?
-Oh tempo, imensurável tempo,
Que podes passar para todos
Mas não possui o mesmo efeito sobre mim.

... E por ciúme, vaidade,  humildade, soberba ou temor...
Esse não saber o que não sei
E já sem forças e quase sem vontade
De querer saber e tão pouco não saber,
Visto trajes de cólera, altivez e melancolia
-Sem ao menos eleger o mais bonito ou o mais adequado-

Assim, ponho-me uma cética/crente
Entre o meio sorriso e o meio sentir
Ante o sonho e a intangibilidade
Que tua presença ausente me faz sentir.



Deixes-me partir,
Se não consegues deixar de trancar as portas.

Quanto de tuas vestes são vaidades?
Quantos rastros teus foram por mim perseguidos
Para que, ao fim, a alegria se envergonhasse,
As minhas horas não te beijassem,
E meu ser coroado fosse adornado de rosas tristes...

Grandes são os teus encantos
Que com palavras fazes pontes com o meu espírito
E consegue amamentar a dor - o nosso tédio-
Em um ópio homeopático que não possui moradia fixa.


Quem de nós poderia olhar uma determinada estação
E dizer que  foi mais nua que nós?
Fomos nós Sete vezes mais!
Sete vezes estive em posições favoráveis
Para te ver desfolhar as vestes...
...Estou a fenecer à míngua desse sentir...

A tua oratória é uma promessa  interrompida pela nossa realidade.
Ofertamos a um deus, por nós, deposto
Buscamos e não encontramos
Batemos e não entramos
O nosso amor pelos momentos sonhados
Sobrepõe aos vividos.

Onde estará o “nós”, mesmo que não exista?
Na poesia?
A cartase  dissipa-se depois de um tempo sentida
Numa fome que nunca sacia.

...Talvez, aí esteja à síntese da NOSSA agonia
Poemas são limitados.
Resguardados, coagidos, acanhados
Cujos dispositivos automáticos são sempre de opressão e de castigo.
Estaremos sempre aqui, condenadas a uma eternidade,
Mesmo depois que barqueiro sombrio nos coma...
Presas nestes versos estranhos por um amor atemporal.
Sem singularidade, sem nomes, sem  realidade
E sem saída.


Por que me chamas?
Não sabes, ainda que sabendo,
Que carrego no mais alto cume de mim
O gosto da nossa derrota,
E que ainda sou aquela que não quero ser?

Com que nó me prendes?
Nó das palavras?
-Não! Não só.
A minha matéria testemunha teu canto
Numa empatia que não consigo explicar

Em sonhos vieste a mim
E quando fui ao teu encontro
Palavras, das mais quentes
Notificaram o inferno de não te ter.


Ética-
"Porque nem tudo que eu quero eu posso.
nem tudo que eu posso eu devo.
e nem tudo que eu devo eu quero."


Gosto quando provocas
E o quanto sabes que me excitas!
Bem sei que não é certo que eu possua tua carne nua
E tão pouco terias a coragem, mesmo na noite escura,
(Cujos gatos são pardos) te libertar da miopia que te ofusca.

Sempre temerás a mim e eu a ti
Sempre te apegarás às lembranças
Mais do que as múltiplas possibilidades de um novo sentir.
Um “Não!” ou uma simples hesitação seria demais para ti.

Eu sei, também estou assim!



Não sei dimensionar em poesia o que se sente
E não se edita.
O que calha amenizar e com que calma...

O universo é tão entrópico quanto o meu.