De lábios cerrados a grafia enigmática
Cai sob a mesa posta das definições desse ego.
Sofregamente cata as palavras o esmoleiro...
Sua visão apouca lhe mente luz
Em horas roubadas desse feito. (27/3/14)


Pelas narinas um suspiro estilhaça o canto mudo das borboletas
Em brisas imaginárias que existem, posto que pensa.
Implantes vertiginosos de alma e espaço
Cotovelos que  apoiam incertezas.

Sem saber como queres que te queira,
Suspendes passado como lareiras.
Faíscas caem sobre o teto do outro
Que arde sem saber o porquê queima.

Quando falas que muito dizes em teu calar,
São como janelas que abres para que te vejam.
- O que diria o outro, caso veja?
Decerto ficaria confuso
Sem saber o que desejas. (29/3/14)

Quando a imagem é uma invocação ínfera
Ao que longe voou e
Se instalou no espaço
Paralisado e recaído sobre o retrato
Cavas, sinais e sorriso
Sobre o travesseiro debruçado. (10/4/14)


Lembranças infestas,
Quem as anistiará?
Tenho dó das palavras
Dos burburinhos que elas atraem.
Suores vazam polens
Calafrios à carne crua
Sobre a consciência do pensar.

Vertigens fingem febre
E sob este céu,
Tantas formas criam nuvens.
Poesia emerge do atrito que antropofagia
Em cântaros de cabelos, olhos e respiração.
...Estimulada ao saber que não degluta só. (16/4/14)


Respiro cinzas,
Como ninguém mais nina,
Sufoco meus devaneios
E embalo-me ao canto mudo da memória
Tantos frustres desesperos.

A escrita, por mais alma que possa doar,
Apoia-se nas paredes do tinteiro
Um cansaço nina, míngua a vontade de estar perto.
E, por mais perto que outras vontades possam dar,
Ponho-me estrangeiro.

As cantigas tristes que o vento traz
Não são diferentes das que trago no peito
Todas falam de um tempo
Mas pouco trazem as linhas que liguem
As mãos ao berço.

Como uma aspiração nina, poderá viver de vento?
Até quando sobreviverá?
Talvez o tanto de Cucas que se pode suportar. (17/4/14)

A lembrança que tenho de ti
É uma flor sobre o meu peito
Ou a mesma despetalada entre teus dedos
...Palavras sem acinte...
Erguidas como totens
Em paredes páreas do meu ventre. (02/05/04)

Tiremos os trajes do Entrudo,
Todo o pó desses confetes.
Repousemos frívolos
E inconscientes de nós.

Desenganemos de nós, ó meu amor,
Assim como o jazz
E continuemos a viver sem ele.
Abandonemos os altares, pois tantos outros amantes
Deitaram-se neles em luxuriosas trevas ou luzes.
Então para quê santificá-los nós?

Que o nosso  afeto esteja coberto sob o manto biltre
Sem importar com as ramas mortas de suas raízes.
Sem definição, pois nunca nomeamos a ele,
Sem o outono de folhas pautadas da nossa solidão
A transformar em inverno nossos versos.
Sem efeitos borboletas
Que a nossa presença possuía.
Apenas o silencio que te cabe
e a dor muda que me pertence
Como veneno no estomago a nos embotar. (22/03/14)

"...E quando o susto passar
O que se vai fazer?
Você perde quando
Paralisa-se
E vai perder de novo se não
Se mexer
Isso eu sei..."

Paralisa- Pedro Veríssimo


Um sonho onde o leito são nuvens
E um agosto ao gosto da coincidência
Mira e erra a previsão
Tornando a figura alheia  uma presença afônica
Cujo apenas os braços estão abertos para um amplexo que acolhe.

Do ósculo que me roubaram em somnia
E o ósculo desperto que não roubei,
Tornou do sonho uma realidade desconcertante
Onde tortuosas ondas internas
Sequer ousaram lamber os pés do propósito.

Ao toque de um abraço vertical
Há um desmaio da coragem
Um ato fânero em que toda força subcutânea se desfaz
E a previsão de ser alvo de um ósculo
Nem um ósculo consegue dar. (18/05/14)


O tecido desse sentir
Reflete em mim um corpo histérico e autônomo.
Tantas emoções são o vermelho
Desse cálice suportável e ávido
E o ritual incansável das minhas mãos.

...Há um espasmo da sensação,
Um fazer orgânico nesse excesso de sentir
Que quando é triste, escorre da face uma lágrima
E uma figura me abraça por trás e me ajuda vestir 

Ao meio de mim estão todos os motivos
A esvair em gozo,  o peso dos sonhos e das vestes
Para serem segundos paliativos de contemplação abstrata
E inconsciente dormir sem que ter que sonhar. 19/05/14