No ônibus aprecio olhar pela janela.
O panorama são sempre pessoas, casas, estabelecimentos, ruas e vielas.
Mas o vento assanha meus cabelos,
Então fecho a janela.
A imagem já não é tão nítida,
Tudo lá fora embaça.
Tudo menos teu sorriso que vejo refletido
Causando-me náusea.
Nem todos os dias te vejo
E em mim nem sempre te anuncias,
Pois o desejo sem tua imagem definha.
Tempo perdido... entulhos sem serventia.
Então os coloco ao vento fresco
A secar junto as minhas roupas no fim de semana
Suspensas no varal de arame farpado
Que são todos os meus devaneios.
Mas nada disso tem êxito quando te vejo.
Um dia da cadeira alta e solitária abdiquei
No vidro já não te revelavas,
Mas olhando pra frente
Vi teus olhos que me procuravam.
(Me procuravam e me achavam)
E do jeito que olhavas,
Solícita os meus te dei.
Tenho os meus desenganos
Que a vida não me censura.
Ao te olhar me vejo por dentro
A revelar toda essa loucura.
Não me olhes mais e eu tentarei não te ver
És jovem e nunca irás entender
Que beijarei teus lábios, tuas costas e partirei.
O que pode ser insuficiente para ti,
Sem dúvida pra mim não há de ser.
Meu Deus, afasta de mim estes olhos jovens
Que de tão cândidos devem permanecer.
E todos os meus desejos mantenha-os castos
Pois não há nada mais que posso oferecer.
Vejo a praia que és tu
Em ondas a tatear, me
buscar e recuar.
Vejo a lua que também
és tu
Que de cheia começa a
minguar,
E que já não inspira o
violão;
Nem os trovadores;
Nem as senhoras, nem os
senhores;
Nem mesmo os lobos;
Nem as sereias;
Nem o mar.
Vejo a relva que foste
tu
A esverdear e secar.
O sol que também foste
tu
Que vivia a me
acalentar,
E que agora queima a
cera que liga as penas que roubei dos pássaros para te alcançar.
Vejo-me triste a
definhar
Tal como as folhas de
outono
Que caem para o inverno
chegar.
Vejo-me como um fósforo
riscado;
Um cigarro frio;
Um marinheiro sem
navio;
A fé que não sabe
acreditar.
Mas o que és e o que
foste pouco importa
O que serás há de ser
meta.
As lembranças lançarei
aos pombos para alimentá-los
E o meu amor asfixiado
ficará.
Tudo para te
transformar na memória inútil
De um amor que não
soube durar.
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Quem sou eu
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